Seth, conheceu o movimento Hip-hop em 1999, através de eventos de break. Foi lá que conheceu o grafite e se impressionou com a habilidade dos grafiteiros ao desenhar com spray. Porém, foi somente em 2009 que teve contato com as tintas pela primeira vez, através da pichação.
“Eu sempre gostei de desenhar, assistia muito mangá e desenho animado, sempre prestava muita atenção nos detalhes, nas expressões e movimentos exagerados. Quando eu tinha uns 9 anos, meu irmão mais velho, Thiago, começou a me apresentar o mundo do Hip Hop, ele já fazia pichação e bomb. Todo mês ele comprava as revistas da Terceiro Mundo e a gente passava a tarde desenhando, reproduzindo desenhos do Binho, Shock, Nick e o Grafs. Eu me identifiquei com a cultura, achava muito louco os desenhos que eram possíveis ser feitos com spray. Eu via muito na rua grafites dos Solventes Crew, Alma, Bolacha, Case e Ice Man. Em 2009 eu peguei algumas tintas látex, comprei um spray para contorno e fiz uma letra, foi a primeira vez que eu assinei Seth” contou.
Depois desse seu primeiro contato com grafite, Seth conheceu seu parceiro Nix. Eles moravam no mesmo bairro, e começaram sem saber desenhar perfeitamente. Assim, aprenderam juntos. “A gente saía todo fim de semana pra pintar em um bairro diferente. Eu não entendia muito o que era arte, e nem tinha pretensão de viver de arte, mas eu gostava muito de pintar, de estar na rua, de estar com meus amigos” disse ele.
Seth trabalhava como pintor na construção civil, o grafite era um hobby. Mas quando ele iniciou os estudos sobre a pintura realista, seu trabalho começou a ganhar destaque. Surgiram convites para viajar pelo país mostrando seu trabalho até que em 2013, ele ganhou o prêmio Paraná Hip Hop, como destaque do ano na categoria Personagem. No ano seguinte, Seth participou do Meeting of Styles em Lima no Peru, representando o Brasil. “Logo após voltar do Peru, estava desanimado por ser talentoso e não conseguir vender meu trabalho. Eu fui pintar um muro na favela bem próximo de onde eu morava, o morador ficou bem feliz com a pintura e me deu um kit de tatuagem. Comecei a estudar em casa, tatuava batatas e folhas de E.V.A, assim que fiz minha primeira grana, larguei o emprego de pintor, e comecei a me dedicar somente a arte. Coloquei um objetivo na minha cabeça: o trampo que eu vou fazer hoje tem que superar o que eu fiz ontem, então tudo que eu faço vira estudo. Hoje eu faço murais, pintura em tela, pintura digital e tatuagem. Ao longo da minha carreira eu ganhei alguns prêmios, que foi o que realmente mudou minha vida. Eu nunca pensei em grana, sempre entendi que o foco é se dedicar, fazer tudo com verdade no coração e o resto vai acontecer naturalmente”.
Suas primeiras referências vieram do grafite curitibano, e através de revistas e posteriormente da internet, onde conheceu nomes do grafite mundial. Começou pintando letras “wildstyle”, passando para o cartoon e finalmente encontrando seu próprio estilo dentro do realismo. “Gosto muito do realismo com spray, a proporção é muito impactante pra quem vê pessoalmente. Também acho o spray uma das ferramentas mais difíceis de se trabalhar, por isso eu curto, o processo parece um quebra-cabeça” falou.
Com o passar do tempo, Seth buscou referências além do grafite, utilizando técnicas adaptadas de pintura digital, aquarela e até mesmo de tatuagem para criar seu estilo único. “Eu fui me cobrando cada vez mais para colocar verdade nas pinturas, tinha que ter um porquê pra mim, então comecei a colocar elementos que via na rua: personagens da minha cor de pele, representando meus ancestrais, misturando cultura brasileira e indígena. Muitas das pinturas são de lembranças ou momentos que eu passei na minha vida que me marcaram muito, nunca é uma coisa óbvia, é sempre um detalhe, uma expressão, principalmente nos olhares ou tom de cor”.
E embora já tenha construído um estilo próprio, Seth ainda busca se manter atualizado, acompanhando outros artistas nas redes sociais e buscando referências em muitos deles. Seu objetivo agora é viajar pelo mundo, espalhando sua arte e fazendo grana para ajudar sua família. Utilizando a rua como suporte, espaço democrático e acessível, hoje ele busca transmitir seus ideais e sentimentos, trazendo discussões e reflexões a respeito da sociedade em que vivemos, retratando as desigualdades e singularidades, mostrando que o grafite é arte e está ao alcance de todos. “Antes de me tornar artista, eu tinha um pensamento sobre o mundo, eu era revoltado com a vida, talvez por sempre passar perrengue e conviver com a violência. Ia trabalhar cedo e voltava tarde, não tinha tempo pra nada. Estudei pouco, então não me importava com vários assuntos que hoje eu abordo na minha arte. Quando comecei a pintar na rua, comecei a circular por vários ambientes, desde fazer grafite na favela, onde a miséria toma conta, a lugares que o padrão de vida era muito alto. Eu comecei a viajar pelo Brasil e entender melhor as pessoas, a cultura de cada lugar, comecei a estudar a história de tudo o que eu ia pintar, fazer pesquisa, isso me trouxe um enorme conhecimento, trouxe para perto de mim pessoas maravilhosas que me ensinaram muito.”
E mesmo após as dificuldades por conta da pandemia e de ter pensado em desistir da arte, Seth se mantém motivado por saber que sua arte faz diferença na vida das pessoas, principalmente em bairros mais pobres, onde é raro o contato com a arte. Ele também se enxerga nos meninos e meninas humildes das escolas públicas, onde ele vai palestrar. Geralmente, os jovens mais revoltados, pois ele sabe que essas são as pessoas que mais precisam lhe ouvir. Pois segundo ele, são crianças muito talentosas que não chegam nem a descobrir o quanto são poderosas.
Confira o recado que ele deixou para os nossos leitores:
“Então pra você que tem o sonho de mudar sua vida através da arte, não desista, confie em você, nada e nem ninguém vai conseguir te parar. Ignore todos os problemas, as pessoas que dão risada de você, e transforme isso na arte mais violenta e pura que você conseguir, da mesma forma que eu superei as dificuldades e meus traumas, você também pode. É um sonho real. Quem planta muito, colhe muito. Muito obrigado à todos que tiraram um tempo para ler essa matéria”.
Contatos do artista Seth Dazrua:
Instagram: @seth_dazrua
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Fotos: arquivo pessoal do artista
Fonte: Seth Dazrua