Fredone Fone é um artista brasileiro, nascido em Bom Jesus do Itabapoana no Rio de Janeiro. Filho de mãe empregada doméstica e pai pedreiro, quando tinha um ano de idade, mudou-se com sua família para o bairro de Serra Dourada na periferia da cidade de Serra no Espírito Santo. “Ali ajudei meu pai no trabalho de pedreiro e pintor de paredes durante dez anos, até os vinte anos de idade trabalhei construindo e reformando casas, ao mesmo tempo em que ajudava minha mãe a fazer salgadinhos para vender”, contou. Mas além de ajudar a sua família fazendo o que podia, mantinha seu lado artístico aflorado. Aos treze anos conheceu o skate, que consequentemente lhe apresentou a cultura hip-hop. Suas primeiras assinaturas com tinta spray surgiram por volta dos anos noventa. “Cresci cercado pelo cotidiano e pela criatividade na luta diária dessa cidade, que é uma das consideradas mais violentas do país”, disse ele.
Como contou, precisou conciliar seu trabalho como artista à outras atividades para não ter que desistir da arte. “Quando se nasce sem dinheiro, tendo um saldo bancário familiar no vermelho, é sempre muito difícil viver de qualquer trabalho, empreender ou tentar algo similar, principalmente quando falamos de Brasil. O grau de dificuldade aumenta muito se tratando de arte. Pobre, negro e morador de periferia, filho de pais que também não tiveram acesso a espaços culturais como museus, galerias de arte ou teatros”.
Fredone tinha todas as desculpas para desistir, no entanto, ele nunca quis abdicarda arte. Lutou para se manter ativo ativo nas ruas, permanecer atualizado e, principalmente, ocupar novos espaços, onde antes se quer havia entrado como visitante. Por uma mistura de sorte, esforço, persistência, oportunidades, e ajuda de muita gente, continua lutando. Segue construindo seu nome nas ruas, ao longo de quase 25 anos, pintando no espaço público, conhecendo pessoas e viajando bastante.
CONCEITO E TÉCNICAS
Inspirado na arquitetura e no modo de vida do bairro onde cresceu, Fredone utiliza técnicas e ferramentas que acabou absorvendo durante o trabalho com seu pai, em pinturas de casas. Suas obras falam sobre sonhos, dentre eles a luta pela casa própria, e busca referências na cultura hip-hop como um todo. “Nas minhas obras, falo sobre o sonho da casa própria: sobre a emergência de ter um lugar para morar e sobre a luta diária de quem vive tentando terminar de construir um lugar confortável para viver”, contou. Em seus trabalhos ele tenta trazer a autoconstrução e a informalidade como táticas de existência, ocupação e sobrevivência da população negra e periférica na sociedade.
Em resumo, sua inspiração vem da arquitetura, principalmente a arquitetura da periferia. “Nos últimos 10 anos tenho utilizado tinta vermelha, preta, branca e cinza para pintar, cores que utilizei muito para pintar paredes, portas, grades e janelas enquanto trabalhava com meu pai, além de utilizar técnicas e ferramentas similares as que usava com ele, como trincha, rolinho de espuma, rolo de lã e fita crepe”, contou. Sua experiência como pintor lhe moldou a ser o artista que é hoje. Fredone usa bem menos spray, e opta por pinturas que utilizem técnicas de pintura residencial, trabalho que ele já tem quase trinta anos de domínio.
Seu processo de produção é na maioria das vezes de improviso, mas em algumas obras, costuma tirar uma fotografia do local e em seguida desenha no computador, sobrepondo a imagem. Mas sempre está sujeito à mudanças. “Entendo também como um processo de construção da casa, na possibilidade do puxadinho, do construir uma parede e depois derrubá-la, do isolar uma porta e torná-la a abrir em outro lugar. É mutável, e poderia até mesmo ser um processo sem fim”.
Seu momento de criação também é embalado por música, de preferência rap. Ao ser perguntado sobre o cenário atual, Fredone nos contou que admira muitos colegas, mas dá destaque aos artistas do Espirito Santo. Suspeitos na Mira, Kika Carvalho, Castiel Vitorino Brasileiro, Cesar MC, Renato Ren, Gordin do Gueime, Jorge Nascimento e tantos outros.
Fredone já viajou para vários países por conta do seu trabalho, apesar de tudo que já construiu ainda deseja falar e ser ouvido. E incentivar um maior número de pessoas que vieram de realidades similares a sua, a ocuparem mais espaços de poder. Sonho que um dia toda pessoa possa ter uma casa confortável para morar”, confessou. A arte para ele é como uma ferramenta de sobrevivência. É a chance de manter-se vivo e existir em uma cidade violenta e racista.
Confira a mensagem que ele deixou para nossos leitores: “Valorize artistas locais: comprando ingressos, CDs, trabalhos de arte, comentando e compartilhando nas redes sociais”.
Mais informações sobre Fredone Fone:
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Twitter: Fredone
Site: www.fredonefone.com
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