Conheça a artista “Crica Monteiro” e seus graffitis

Crica Monteiro tem 32 anos, nascida em São Paulo/Brasil é moradora de Embu das Artes desde os 8 anos de idade. Aprendeu a gostar de artes muito cedo, acompanhando o dia a dia de sua mãe que pintava telas e dava aulas de artes e artesanato na sua infância. Criada nesse ambiente começou a desenhar na infância, descobriu o universo do graffiti na adolescência em 1999 quando conheceu o movimento Hip Hop, despertando em si a curiosidade e o interesse em fazer essa arte. Depois de alguns anos se familiarizando com o novo ambiente cultural começou a fazer seus primeiros rabiscos nas paredes em 2001.

O interesse por pintar na rua acabou à levando a querer seguir uma carreira acadêmica, pensava em algo relacionado ao design, ilustração, vídeo e animação. Formou-se em Design de Interfaces Digitais em 2008 pelo Centro Universitário SENAC SP. Trabalhou em estúdio editora, agência, portal e empresas com o foco em criação, off-line e digital. Atualmente tem 12 anos de carreira como designer.

Crica - graff

Em 2014 decidiu largar o trabalho formal de escritório para se dedicar puramente aos seus trabalhos autorais com o graffiti, as artes plásticas e decoração, ministrando aulas, trabalha na área digital hoje como freelancer, criando suas ilustrações, e fazendo projetos digitais para sites e peças editoriais. Hoje seu foco maior é continuar trabalhando com todas as coisas que gosta, seja sendo : designer, grafiteira, artista plástica, ilustradora ou se dedicando aos projetos pessoais.

Crica Monteiro

Veja a entrevista que fizemos com Cristiane Monteiro (Crica) :


1 – Como surgiu seu interesse pela arte ?

Meu interesse pela arte surgiu muito cedo, acompanhando o trabalho que minha mãe costumava a fazer. Ela pintava telas e criava artesanatos, e dava aulas também, sempre me incentivou a começar a desenhar, nunca me esqueço do caderno de desenho que ela guardava de quando ela era ainda uma menina e sempre fazia questão de me mostrar. Ela ampliava os desenhos das figurinhas para esse caderno. Como eu sempre tive contato com lápis de cor, tintas e papel eu mesma fui me interessando aos 6 anos a começar a fazer os meus primeiros rabiscos.

Crica em São Bernardo do Campo

2 – O que te influenciou a grafitar ?

Bom, primeiro foi o meu primo Paulo que tinha na época a mesma idade que eu uns 15 anos, ele tinha feito o próprio nome em uma folhinha e veio me mostrar aquelas letras gordinhas que eu achei o máximo. Começou a cantar uma música dos Racionais na época (O Homem na Estrada) e eu nem sabia o que era RAP nessa época, só sei que o ritmo e as letras me chamavam a atenção. Como eu era adolescente e já gostava de coisas diferentes, comecei a conhecer alguns amigos que andavam de skate, que tinham bandas, algumas de Rock, e outras que tinha uma mistura de Rock com Rap, até conhecer os MCs e DJs. Nessa época comecei a frequentar casas de cultura onde essa galera se reunia, faltava conhecer o Break e a galera do Graffiti, foi aí então que conheci toda a junção da Cultura Hip Hop. Como o Rap e a Black Music me contagiavam comecei a frequentar mais esse ambiente.

Comecei a vecrica arte urbanar a galera do break dançando e logo percebi um pessoal junto com várias pastas com plásticos onde guardavam os seus esboços nessas pastas, “as folhinhas”, isso me chamou bastante a atenção. Comecei a conhecer as pessoas que faziam os graffitis e que sempre se reuniam nesses lugares para desenhar e trocar folhinhas, passei a fazer e colecionar de outras pessoas, e isso foi me deixando cada vez mais próxima desse tipo de manifestação. Passei a fica viciada em desenhar nas folhinhas, fazia muitas letras, ainda não pensava em personagens. Passei a conhecer as referências vendo as revistas que chegavam até a mim, através de amigos, e depois eu mesma passei a comprar as minhas nas bancas. Foi assim que antes de começar a pintar nos muros das ruas eu aprendi o que era a cultura Hip Hop, o que ela representa e o que significa para mim. Fui aprendendo a história do graffiti cada vez mais, isso me deixava muito feliz e instigada a querer saber mais e mais, passei a desenhar mais, passei a observar mais a cidade ao meu redor, passei a me interessar mais por cultura de várias formas. Até o dia que eu me deparei com uma imagem de um trabalho da grafiteira francesa Miss Van em uma revista “A Planeta Hip Hop”(1999), de cara foi uma das minhas primeiras referencias femininas dentro do graffiti, ela era a única mulher nessa revista que por sinal só tinha referencias estrangeiras de graffiti, masculinas e o espaço da publicação do trabalho dela era bem pequeno entre todos os outros. Nessa mesma revista tinha o trabalhos do Lazoo e do Kongo que também me chamaram bastante a atenção, por ser totalmente na pegada hip hop, representavam muito bem a cultura afro nas imagens, as baladas e festas dos guetos coisas assim, é fantástico de se ver, falei – está aí agora eu quero ir pro muro fazer isso.

crica muralismo graffiti

3 – Como foi o inicio e quais às barreiras que você enfrentou ?

Só comecei a pintar em 2001 quando alguns amigos da escola na época resolveram pintar e me chamaram, eles já sabiam do meu interesse e dos desenhos que eu fazia. Foi aí que saí para pintar a primeira vez e fiquei super feliz, mas triste ao mesmo tempo, como eu nunca tinha apertado um spray na vida já comecei a sofrer ali na parede mesmo, a tinta escorria de mais, usava Colorgin Auto não existia ainda no Brasil uma tinta especial como existe hoje de baixa pressão, acessível com um custo favorável por exemplo, onde na maioria das vezes você nem sabia como fazer para a tinta não escorrer tanto. Fui na raça, ficou uma bosta, nem câmera para tirar fotos eu tinha, mas quando vi ao meu redor todo mundo que estava pintando comigo estava na mesma situação. Percebi que o que era mais além do que um trabalho muito bom era que eu estava conhecendo esse universo, intimidador e fantástico. Passei a pensar em usar mais látex já que eu tinha muita dificuldade de usar o spray. Meu pai foi a pessoa que me doou os primeiros restos de tinta que ele tinha, afinal de contas ele trabalha com esse material para a minha sorte. Mas fiquei com um belo trauma de usar spray por bastante tempo. Aí levava o graffiti e o skate um do lado do outro despretensiosamente. Mas logo comecei a trabalhar e tive que abandonar um pouco o graffiti e fazia de vez em nunca. Mesmo assim continuava a desenhar sem parar, nas folhas, isso foi me ajudando a observar o meu traço, foi quando descobri Gêmeos, Nina, Nunca, Speto, Toddy(OPNI), 3º Mundo, Só Calcinha Crew e Titi Freak que passou nessa época a ser uma grande influencia para mim. Comecei a pensar em uma identidade própria, via muito isso em todos eles, esse foi o meu principal desafio depois de manipular a tinta.

crica ilustraçao mulher

Como eu trabalhava em shopping e também acabei trabalhando em loja de skate logo eu via possibilidade de pensar em ampliar as coisas que eu sabia. Mesmo não pintando ativamente estava com a galera da rua, o estilo urbano de ser era parte de mim já, isso me ajudou a trilhar decisões como por exemplo fazer uma faculdade. Pensava em trabalhar com as minhas ilustrações, comecei desenhar nas horas vagas e tinha mania de desenhar os meus amigos e colegas de trabalho. Até o dia que o dono de uma marca de skate me incentivou a querer criar algo para a marca deles, como eu era inexperiente e não tinha segurança ainda no que eu criava, achava isso surreal, mesmo assim isso batia lá no fundo. Em Osasco onde eu trabalhava descobri que tinha um grafiteiro chamado Dingos que dava algumas oficinas de graffiti na época e raras por sinal, como eu admirava todos os grafites que eu olhava na rua, passei a pensar em estudar através da observação, porque eu não tinha tempo para oficinas. Estava pensando de mais em fazer um curso de design gráfico não entendia direito o que era, entrei em curso tecnólogo, e lá pude conhecer pessoas que eram de várias áreas da criação. Passei a ser orientada, porque no curso eu já sabia desenhar, mas queria entender outras questões, conceitos e formas diferentes de pensar e criar graffiti e ilustrações. Entrei em 2004 na faculdade de Design de Interface Digital e aí passei a fazer tudo relacionado ao graffiti, todos os trabalhos acadêmicos que eu tinha oportunidade de falar e fazer coisas relacionas ao graffiti eu fazia. Era uma coisa maior que eu mesma. Pensava em desenvolver oficinas de graffiti, acabei desenvolvendo e criando projetos desse tipo junto com amigos e parceiros no graffiti e na cultura hip hop. Pensava tanto em aprender como em passar conhecimentos, da minha entrada na minha universidade em diante não parei mais, foquei e era isso que eu ia levar pra frente na vida. Foi muitos desafios, muitas paradas, muita dificuldade financeira para bancar estudos e materiais, pessoas que me subestimavam, pensei em desistir algumas vezes, tive também pessoas que me fortaleciam, conheci muita gente, passei a explorar todos os tipos de conhecimento que eu tinha até ver que tudo isso foi bom para eu chegar até aqui. E o fato de ser mulher ainda não era o maior dos meus desafios, passei a perceber isso gradativamente, conforme uma coisa ou outra me desafiava, fosse uma piada de alguém, ou a fala um pouco discriminatória de outra, até perceber que esse universo era tomado de homens e eu uma das poucas minas pertencentes desse universo. Passei a pensar mais sobre isso e trabalhar mais em mim essas questões, e que eu poderia ser tão boa quanto qualquer um, passei a me observar mais e não me importar tanto com as coisas ao meu redor. Acreditei e fui em frente.

Crica Monteiro - grafite

4 – Quando consolidou seu estilo ?

Não sei ao certo, acho que não existe uma regra. Mas passei a me dedicar mais a cada dia. A estudar mais e puxar dentro de mim o que eu queria passar com o meu trabalho. Sempre curti muitas coisa do mundo lúdico, então a figura da mulher era a imagem mais forte que eu poderia agregar nas coisas que eu fazia, a África em mim, a vontade de passar a mensagem de que a mulher negra pode ser linda, e fazer o que quiser, passei a ver que não havia tantos artistas que representavam a cultura negra tanto no graffiti como eu outras artes, inclusive tão presente na história do nosso povo. Eu queria só mesmo fazer algo que me deixasse feliz também, eu sempre tive um olhar bem crítico em cima do meu trabalho, acho que essa busca é infinita, e nunca acho que está bom o suficiente, sempre estou em busca de melhorar e aprender.

Crica Monteiro - graff enchente

5 – De onde buscou referências para seu estilo ?

Além do próprio estilo old school do graffiti que sempre admirei, vejo muitas coisas, como na ilustração e na fotografia, busco ver estereótipos diferentes principalmente dentro da fotografia para criar as minhas próprias imagens, estudos de movimento e anatomia, expressões que busco atualmente para inserir ao meu trabalho. Gosto de testar materiais diferentes assim vejo como se aplica como por exemplo as aquarelas e a arte digital, isso me faz explorar mais técnicas e traze-las para dentro do graffiti. Depois da técnica eu procuro pensar no conceito, vejo muito trabalho de concept art isso me faz pensar nas mensagens e o próprio dia a dia serve de espelho, como faço mulheres ando pensando muito mais nesse universo que é da mulher mesmo, o que a figura da mulher negra passa através do meu graffiti. Vejo muita coisa relacionada a arte negra atualmente, e tudo que está a cerca desse diálogo.

Crica Monteiro - graffiti

6 – O que te inspira nas suas criações ?

Pegar um sketchbook, folhas e começar a riscar, fazer os esboços, estudos, referencias dês da pintura das artes clássicas até Disney por exemplo. Vejo muita coisa. Mas a figura da mulher negra me inspira sempre.

7 – Qual é sua combinação de cores predileta ?

Cores vivas, fortes, complementares, que tem contraste e alguns monocromáticos.

8 – Quais são seus artistas prediletos ?

Com relação as técnicas por exemplo no Graffiti Miss Van, Lazoo, Kongo, Titi Freak, Speto, Shalak Attack, Smoky, Toofly , DNinja, Tatunga, Vinie e Dulk . Meus amigos Mirage, Consp, Lia Fenix, Niu, Fany, Luhan Gaba, Atual Arte, Rizca, Grego, Onguer, Viber, Finho e muitos outros. Nas artes e na ilustração Frank Morrison, Moon, Tim Burton, Loish, Pez, Adhemas Batista e alguns ilustradores japoneses que eu não me recordo agora.

viber e crica em recifeMural por Viber e Crica em Recife/Brasil

9 – Quais foram as coisas boas, que a sua arte te trouxe ?

Nossa tantas coisas. Trabalhei para grandes marcas e empresas, conheci muitas pessoas, conheci muitos lugares, aprendi a entrar e sair te todos os lugares dês do mais humilde ao mais abastado, muitas histórias para contar e lembrar, trabalho, me transformou em um ser humano melhor e conheci o meu amor.

10 – O que ainda não fez artisticamente e gostaria de fazer ?

Quero pintar a lateral de um prédio. E quero ainda poder espalhar o meu trabalho pelos quatro quantos do mundo, que sonho!

crica monteiro spraypaint - mural

11 – Se você não fosse grafiteira o que você gostaria de ser?

Eu gostaria de arranhar alguns discos sendo DJ. Ou ser dançarina de um grande artista tipo a Beyoncé.

12 – Deixe uma mensagem para nossos leitores.

“Acredite em si mesmo sempre, porque críticas sempre vamos ouvir, porque sempre vai existir alguém querendo puxar o nosso tapete, mas a nossa verdade ninguém tira quando se tem caráter e amor no coração. Fé e força sempre!”


Mais informações sobre Crica Monteiro :

Youtube : Crica Monteiro
Twitter : @CricaGraff
Facebook : Crica – Graffiti e Ilustração
Instagram: @crigraffmonteiro
Site : www.cricamonteiro.com.br

Veja mais alguns de seus trabalhos abaixo :

Crica monteiro graff

Crica - mural

Crica - graffiti

crica arturban

crica graffitis

Crica Monteiro - mural

mika e cricaMural por Mika e Crica Crica - Tikka - Niu em curitibaMural por Crica – Tikka – Niu em Curitiba/Brasil

Crica - Parque Chácara do Jockey

Crica no Parque Chácara

crica mural graff

Crica para Street of Styles

Crica - mural arte

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Murais
2 Comentários sobre este post.
  • Cristiane Monteiro
    15 agosto 2016 at 13:28

    Obrigada Arte Sem Fronteiras por isso sem palavras!

  • Street art: as 10 artistas de sucesso que você precisa conhecer – arteref
    4 setembro 2019 at 10:14

    […] Acesso à imagem aqui […]

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