Artista Paulo Ito nasceu em 1978 em São Paulo e começou a pintar na rua no ano 2000. Seu trabalho pode ser visto nas ruas da zona oeste da cidade. Até 2011 publicou a HQ independente Mais Barato Grátis que totalizou mais de 5 mil exemplares distribuídos gratuitamente. Expôs no MuBE na segunda Bienal Internacional de Graffiti de São Paulo em 2013. Um ano antes participou da mostra São Paulo Mon Amour também no MuBE.
Em 2014 pintou um painel que se tornou o maior viral da copa do mundo da FIFA de 2014 saindo em veículos de comunicação em mais de 20 países alcançando milhões de pessoas em todo o mundo. Em 2016, depois de pintar uma empena em São Paulo para o projeto Salve o Tapajós do Greenpeace, expôs na Segunda Bienal internacional de Arte de Rua de Moscou. Participou em 2017 do festival Memorie Urbane em Gaeta na Itália e apresentou sua quarta exposição individual “Inconveniente“, na A7mA Galeria.
Veja nossa entrevista com Paulo Ito :
1 – Todo mundo que acompanha seu trabalho deve ter a curiosidade de como surgiu seu interesse pela arte, você pode contar pra gente ?
Eu desenhava desde pequeno assim como muitos e assim como o Angeli, não parei (ele diz isso). Meu avô materno pintava telas por hobby e tinha sido técnico de impressão, então manjava muito de cor, ele com certeza foi uma influência e um crítico. Eu era um moleque um pouco desaforado e brigava, foi um modo italiano de lidar com isso, sinto saudade.
2 – Quem ou quais circunstâncias te levaram a investir na arte ?
Acho que eu não tive escolha, lógico que tive o privilégio de poder optar por isso, digamos que quando cursei exatas no ultimo ano do colegial, ficou bem claro que eu não tomaria nenhum caminho relacionado a essa área por que eu realmente não entendia nada das aulas, nessa época foi das poucas em que colei.
3 – Quais foram os maiores desafios e dificuldades como artista ?
O começo é o mais difícil e o meu durou uns 10 anos. É monetariamente desafiador, mas eu reconheço que eu podia ter me empenhado mais nesse sentido. No mais as dificuldades que vivo hoje sempre estão relacionadas ao conteúdo mais crítico e/ou menos comercial que meu trabalho tem e à dificuldade que tenho para trabalhar temas que considero muito superficiais. Entendo que a maioria das pessoas gosta de coisas que me dão calafrio em termos de qualidade. Posso arriscar que grande parte do meu descontentamento, quando existe, vem da falta de qualificação do público que tem dificuldade em sair do óbvio e a consequente projeção mais modestas de trabalhos mais elaborados.
4 – Como foi a definição do estilo que você gostaria de trabalhar ?
Acho mais fácil falar da definição do estilo que eu trabalho hoje, mas mais abaixo respondo a pergunta em sua forma original. Eu sempre precisei me expressar de uma maneira bem objetiva graficamente. É importante ir direto ao ponto para que a gag de humor do trabalho seja compreendida, então motivos ornamentais e puramente decorativos não aparecem muito no meu trabalho, pois mais atrapalham que ajudam. Eu uso uma técnica em spray que foi ensinada pra mim por uma dupla de artistas muito generosos. Levei 10 anos para entender e conseguir realizar essa técnica. Algumas pessoas comentaram que lembra o estilo desses artistas e eu acho muito legal pois eles criaram algo enquanto estilo que veio enquanto uma solução técnica para esse uso de spray e que cada artista desenvolve a sua dentro das variações desse uso, assim é ÓBVIO que vão existir semelhanças. É claro que eles jamais me reivindicaram nada, pois além de me ensinarem pessoalmente são pessoas grande de espírito e que sabem muito bem que meu estilo nada tem a ver com o deles, bem como o tema e o sarcasmo.
Respondendo agora mais ao pé da letra, é interessante e até contraditório que o estilo que eu GOSTARIA de trabalhar mais, é justamente mais comercial e fácil. Tenho interesse de comercialmente desenvolver uma linha mais apelativa à estética e a sensações anestésicas. Acho que esse estilo tende a ser menos artístico e mais comercial, então é um desafio enquanto design. Esse anseio veio da necessidade de reconsiderar minha a atuação comercial para fomentar a ampliação das ações autorais. Existem filmes como Drive ou artistas gráficos que são influenciados por musicas retro wave que acabam criado uma expressão “lounge” que eu acho bonito afinal e desafiador enquanto uso de cor e criação de uma certa atmosfera introspectiva. Não tenho certeza se o maior publico para esse tipo de arte é amplo ou mais gente que consumiu cultura de massa nos anos 80 e 90.
5 – De onde vem seu sopro de inspiração ?
Vem da atenção às ideias quando aparecem. Elas vem de toda a vivência enquanto um pequeno insight que é motivado normalmente por algo que acontece ou penso. Bem, nenhuma novidade (risos).
6 – Quais artistas do cenário atual você admira ?
Porra, acho o Dran inteligentíssimo, é um dos poucos que me despertam a sensação do “filha da mãe EU que queria ter pintado isso!” (risos) e pelo que li não lembro onde ele tem algo que eu me identifico também enquanto pessoa, considero ele do meio mesmo, ele raramente pintando os temas com critica na rua, preferindo suportes móveis.
Na cena no Brasil tem muitos outros e alguns entre eles deverão pintar comigo muito em breve. Não sei se o André Dahmer que é cartunista pode constar nessa lista, mas esse também , pqp tem que ter o cérebro estudado pela NASA (risos).
7 – O que você ainda sonha em realizar com a sua arte ?
Eu sonho que possa parar com isso um dia. Pra que eu possa me dedicar somente a pretensões inofensivas. Por que nesse momento a maior parte das coisas vai estar bem. Mas parece muito que isso está longe. As vezes posto um trabalho meu mais antigo e comentam que ele segue atual. Bom para o trabalho, ruim para o mundo que demora a mudar sem falar naqueles que querem voltar a idade média (risos).
8 – Quais foram as coisas boas, que a sua arte te trouxe ?
Acho que é um canal em que posso ser a pessoa não sócio-normativa que sou, ou seja uma pessoa considerada estranha, excêntrica, sarcástica e ver que mesmo sendo assim tem uma resposta positiva das pessoas. Isso é bastante satisfatório pois a sociedade tende a valorizar o que as pessoas tem e não o que são. É algo que mais curto em ser artista, valorizam o que você é, claro que muitos preferiam que eu não tivesse nascido, e puts, isso é também demais!
10 – Alguns artistas curtem ouvir músicas durante o processo criativo, com você funciona da mesma forma ? E na sua playlist o que não pode faltar ?
Eu com certeza sou um desses. Já saí pra pintar e esqueci o spray preto que é imprescindível mas raramente saio sem os fones. As vezes tento usar a música como se fosse droga. Durante muito tempo sempre começava o traço preto ouvindo Changes do Tupac. Eu me tornava naquele momento o melhor pintor do mundo sabendo não o ser, aí riram da minha cara uma vez e o efeito nunca mais foi o mesmo, mas ainda acho uma musica muito foda. Bem, outra vertente é mais crítica e latina como Violeta Parra, Victor Jara ou Calle 13 que é também engraçado pacas. Foi com esses caras que comecei a entender mais espanhol e a partir daí muito material que antes eu não entendia se revelou. Escuto muito mesmo Francesco Guccini. Eu tive a sorte de morar na Itália, bem como ser metade de família italiana, então entendo boa parte das letras que são bastante críticas e sarcásticas e perigosamente melancólicas. O triste de tudo isso é que só conheço outra pessoa que também é muito fã, um senhor de 80 anos que raramente encontro. Então escutá-lo é apreciar algo fantástico de modo um pouco solitário.
Paulo Ito na Alemanha – 2014 – Foto : Danilo Halle
11 – Deixe uma mensagem para os nossos leitores.
Gente, a boa arte pede um pouco de quem vê, se é muito fácil desconfie, e outra: ao contrário do mundo capitalista um artista com um carrão não é um vencedor ostentando um símbolo de status, pois nenhum status dentro da arte é maior que a boa arte em si, ou seja, alguns artistas realizam o sonho de se tornarem ricos com arte, outros realizam o sonho de fazer arte de qualidade e uma coisa não tem nada a ver com a outra quando não são inversamente proporcionais.
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Pauto Ito e Alex Senna
Pauto Ito e Alex Senna
Paulo Ito e Lake em Berlim
Fonte : Paulo Ito