Conheça o artista “AC Stencil” e suas intervenções urbanas

Alto*Contraste, ou A*C, é um projeto de arte urbana que existe desde 2005. Até meados de 2017 foi uma dupla com Lygia Lee e atualmente segue tocado por Lou Dedubiani. Apesar de bastante conhecido pela figura de um urso amarelo, o universo do A*C quase sempre gira em torno de personagens carregados de algum estranhamento, resultando em composições que de certa forma remetem ao Realismo Fantástico e a alguns arquétipos da psicologia, investigando o ser humano no que têm de pitoresco e paradoxalmente universal.

Além das ruas, a arte do A*C já esteve em diversas mostras coletivas pelo mundo: Barcelona, Berlin, Buenos Aires, Glasgow, Londres, Melbourne, Nova York e Paris. Esteve presente também em importantes publicações de arte urbana pelo mundo e grandes festivais, com destaque para a primeira edição do Cans Festival (2008), em Londres, onde Lou e Lee trabalharam a convite do artista Banksy.

Lou Dedubiani

Veja nossa entrevista com AC Stencil :


1 – Todo mundo que acompanha seu trabalho deve ter a curiosidade de como surgiu seu interesse pela arte, você pode contar pra gente?

Na verdade eu desenho desde criança, mas sempre foi só desenho, mesmo porque meus pais – apesar de pais incríveis – eram muito simples e não tinham o menor contato com arte de nenhuma espécie. Até que em 96, com quase 20 anos, fui estudar Desenho de Comunicação na ETEC Carlos de Campos, o famoso “KK”, no Brás. No fundo eu só queria aprender a desenhar bem, mas aquela escola me abriu um leque tão grande em termos de arte que meu desenho acabou ficando em segundo plano (risos). Entre as disciplinas tínhamos processos de gravura, escultura, fotografia analógica e laboratório fotográfico, história da arte, entre outras, coisa que não tinha o menor contato. E o conteúdo vinha das aulas, claro, mas muito também dos amigos, das conversas de bar. Rolava uma puta cena ali, punk, skate e o graffiti ! Por ali tinham acabado de passar caras como Os Gêmeos e o Onesto. E ali comigo, dividindo as aulas ou o bar, artistas como Vermelho Steam, Pato, Jey, Guid, e muita gente foda ! Enfim, ali surgiu o meu interesse pela arte como um todo. A partir daquele momento é que desenvolvi um olhar artístico, passei a visitar museus, acompanhar cinema independente e tal. E foi ali que, no primeiro dia de aula, conheci a Lee, que viria a ser minha esposa e parceira no A*C por mais de 12 anos.

2 – Quem ou quais circunstâncias te levaram a investir na arte?

Apesar de rabiscar umas coisas e de já ter feito meu primeiro stencil naquela época, o “fazer arte” só entrou mais tarde, com a Lee, quando já estávamos juntos. Lembro que na época ela estava grávida do Caio, nosso caçula (que hoje está com 13!). Era final de 2004, ali nasceu o A*C, muito despretensiosamente, era só mesmo um impulso nosso de ir pras ruas. E então vieram os primeiros anos, anos incríveis! Morávamos no centro na época, então simplesmente carregávamos nossas tintas e stencils e pintávamos no caminho de onde íamos, sempre trabalhos rápidos, em PB, e esse pique seguiu por pelo menos uns dois anos por ali. Nessa época recusávamos o rótulo de artistas, víamos a coisa toda como expressão, intervenção, ocupação da cidade e até vandalismo (risos), mas não arte. Era muito raro pintarmos algo que não fosse a própria cidade, não nos interessava outros suportes, entende ? Mas claro que uma hora isso aconteceu, nem lembro como foi essa abertura, mas acabamos aceitando esse “fardo” da Arte (risos).

3 – Quais foram os maiores desafios e dificuldades como artista ?

Acho que a própria decisão de viver exclusivamente da arte, há uns 3 ou 4 anos.

4 – Como foi a definição do estilo que você gostaria de trabalhar ?

Na verdade, como o A*C sempre foi uma dupla, desde o início o stencil nos pareceu a melhor forma de criarmos e trabalharmos juntos de verdade, no processo todo. Já curtíamos essa pegada seca, gráfica, e tínhamos muitas referências em comum, principalmente a fotografia antiga, os freaks e tal.

5 – De onde vem seu sopro de inspiração ?

Poxa, não sei se acredito muito nesse tal sopro não. Mas hoje, revendo todo o trabalho do A*C, acho que mesmo que inconscientemente nossa inspiração sempre foi o ser humano em “desajuste” com os seus pares, essa espécie de “estranhamento”. Desde os primeiros stencils dos freaks, passando pelos arquétipos animais e recentemente por novos personagens humanos, acho que no fim tudo tem um certo desconforto social, uma camada aparente que encobre uma segunda, mais real e estranha. É como o urso talvez, que pra mim nada mais é do que uma representação do ser humano em toda sua ambiguidade: ao mesmo tempo que pode ser considerado fofinho, o Teddy Bear, sabemos que é um animal extremamente selvagem e traiçoeiro.

6 – Quais artistas do cenário atual você admira ?

Poxa, acho sempre difícil citar artistas do cenário atual, sempre que faço isso deixo vários monstros e amigos de fora e me arrependo depois (risos). Seria mais fácil pra mim fazer uma lista de artistas sem esse recorte da cena atual, poderia incluir pintores, cineastas, fotógrafos, escritores.

7 – O que você ainda sonha em realizar com a sua arte ?

Não tenho sonhos muito pontuais, muitas ganas não, no fundo o que mais quero é continuar produzindo da forma mais verdadeira possível, o resto tem que vir como consequência disso.

8 – Quais foram as coisas boas, que a sua arte te trouxe ?

Sem dúvida poder viver do que acredito, rompendo com esse ritmo de 44 horas semanais de mentira e poder estar perto da minha família. Além disso, conhecer tantas pessoas incríveis, algumas viagens nacionais e internacionais, são realmente coisas boas que a arte me possibilitou. Ah, e claro, ter trampado num túnel em Londres com vários monstros do stencil a convite do Banksy foi uma das coisas mais fodas e surpreendentes!

9 – Se você não fosse artista, qual séria o plano b ?

Talvez trabalhar com comida vegana e orgânica, ou algo ligado aos animais, como hospedagem de dogs, que aliás já é um lance paralelo aqui.

10 – Alguns artistas curtem ouvir músicas durante o processo criativo, com você funciona da mesma forma ? E na sua playlist o que não pode faltar ? 

Tão difícil quanto citar os artistas que admiro, mas vamos lá…ouço muita coisa, muita mesmo, mais fácil dizer o que não ouço: nada que venha acompanhado do termo “universitário” (risos). Em uma playlist minha conviveriam coisas absurdamente diferentes como Stooges, Billie Holiday, Dead Kennedys, Jon Spencer, os cubanos do Buena Vista Social Club, Morphine, Cartola, Mudhoney, Muddy Watters, Cramps, Beastie Boys, People Under The Stairs, Jorge Ben, Gil e Itamar Assunção, Serge Gainsbourg com Brigitte Bardot, John Coltrane, Nação Zumbi, MC5, Fela Kuti, Baiana System, Siba, Jackson do Pandeiro e…melhor parar por aqui senão a salada nonsense vai longe (risos).

11 – Deixe uma mensagem para os nossos leitores.

“Primeiramente, Fora Temer! (risos) E também fora Dória, Alckmin e esse bando de fascista que vem botando as mangas de fora ultimamente. No mais, viva a liberdade da arte!”


Mais informaçoes sobre AC Stencil :
Instagram : @acstencil
Facebook : Ac Stencil

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Murais
Um Comentário
  • Stencil: breve história e 4 artistas brasileiros para acompanhar – DW!
    24 junho 2021 at 11:18

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