Humanos nasceu em meados dos anos 2000, criado por um grupo de estudantes/pixadores de um colégio da Zona Oeste de São Paulo. O nome Humanos vem de “us manos”, e representa todos os manos das ruas de São Paulo. A partir de 2009, o Humanos passa a ter um único integrante, Guilherme de Andrade, e se volta para o Graffiti na busca de abrir um diálogo entre a cultura do pixo e do Graffiti, se empenhando no combate ao fascismo, racismo, machismo e homofobia.
O artista não sabe quando exatamente surgiu seu interesse pela arte, mas lembra que sua mãe lhe dizia que quando era criança a única coisa que o mantinha parado em algum lugar, era uma folha de sulfite em branco, era muito hiperativo e a única coisa que o acalmava era o desenho. “Meus pais viram nisso um sinal pra me encaminhar para uma carreira artística e me ensinaram sobre a história da arte: o romantismo, modernismo, arte barroca, etc. Mas eu achava tudo aquilo muito chato, eu me interessava mesmo pela pixação, pois quando moleque eu andava muito de skate por São Paulo, e todo lado que eu ia tinha um pixo. Eu achava muito louco e ficava tentando decifrar o que tava escrito ali e imaginando como eles subiam tão alto para pixar. Ao longo dos anos, o meu amor pela arte de rua só cresceu” contou.
Guilherme, não vê o fato de viver no Brasil um agravante na vida de um artista, pois com a internet o artista pode vender a sua arte pra qualquer lugar no mundo. Segundo ele, o problema nesse caso, é o capitalismo, que faz com que o artista se sobrecarregue pra atender o mercado de arte. “Eu já tentei viver exclusivamente de arte, larguei tudo e tentei a sorte. No começo, eu achava um sonho ganhar dinheiro com a minha arte, mas depois eu fui percebendo que esse mercado de arte é nocivo para o artista, eu não sabia mais separar o que era prazer do que era trabalho e virei um robozinho que criava, produzia, publicava, entrava em contato, vendia e fazia entrega. Agora, eu trabalho como diretor de arte, o que não deixa de ser um modo de viver de arte. Um dia eu penso em voltar a vender a minha arte, mas em formato de print pela internet, sem galerista pilantra no meio” disse.
Durante sua caminhada, Humanos desenvolveu seu estilo da mesma forma que ele evoluiu como pessoa. Durante a sua adolescência chegou a se preocupar com a fama do seu trabalho. Mas percebeu que era mais importante alcançar um estilo simples e minimalista que trouxesse alguma mensagem importante para a sociedade, que as pessoas se identificassem e não tivessem problemas em interpretar os seus graffitis.
Para suas obras, Humanos usa várias técnicas que lhe ajudam a desenvolver seus trabalhos. Para criar o desenho começa um estudo anatômico, depois estudo de perspectiva e às vezes até design de moda. “Na hora de realizar os grafittis, eu utilizo tinta látex e o spray pro contorno. Eu desenvolvi uma técnica de sombreamento e luzes com o látex, antes eu usava só o spray, mas com o preço da lata eu tive que me adaptar, agora eu só uso spray pro contorno mesmo” contou.
Para o artista, sua arte é um ato politico, ele não se arrisca na rua e gasta dinheiro com tinta para colorir a cidade cinza. Guilherme deseja incomodar, gosta de tratar de assuntos polêmicos, principalmente crises sociais e políticas, que são o maior gatilho no seu processo criativo.
O artista acredita na arte como um ato de transformação social capaz de mudar opiniões, pensamentos e atitudes: “Eu acho que vivemos uma explosão cultural no graffiti e, um dia, vão estudar esse movimento como hoje a gente estuda o modernismo, por exemplo. Meu objetivo atual é juntar mais gente nessa caminhada, principalmente a galera da pixação, porque há um movimento de criminalização da pichação usando o graffiti como um antagonista dessa prática. Eu quero mostrar que é tudo a mesma coisa, só no Brasil a gente separa. No resto do mundo, tudo é considerado Graffiti, e aqui a gente ainda separa entre o “bonito” (graffiti) e o “feio” (pixo). Isso está errado, e se eu conseguir contribuir para juntar isso, eu já tô feliz” confessou.
Perguntado sobre os artistas que ele acompanha, Guilherme foi enfático:
“Vários! Eu acompanho todo mundo da nova a velha escola, mas os que eu sigo de perto são aqueles que eu chamo de “dedo na ferida”: Mundano, Paulo Ito, Subtu e os dedo do pixo: Jota (MIA), Bruno (Locuras/Pixoação) e Djan (cripta)”.
Humanos nos contou que a arte desviou sua atenção de coisas negativas e garante que se não estivesse nesse meio já teria se envolvido em confusão.
Questionado sobre o que sente quando as pessoas observam suas obras, ele contou que cada pessoa interpreta de maneira distinta e que o legal da arte é isso.
Humanos deixou uma mensagem para os leitores do Arte Sem Fronteiras, confira:
“Não se acomode com as coisas. Lute! Resista! Não deixe que os outros guiem o seu caminho, seja você a diferença que você quer para o mundo. Não se preocupe com as críticas se não incomoda ninguém, não serve pra nada”.
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