Auto intitulada Operária da Arte, Mari Oliveira é artista plástica, arte educadora, designer e artista de rua – grafiteira. Como muitos artistas, ela começou a desenhar na infância, mas só começou à dedicar-se a arte depois de adulta. Pois segundo ela, os meios artísticos ainda são pouco compreendidos pelas pessoas. No ensino de base, não é possível aprender amplamente sobre seus diversos meios, e isso gera um certo distanciamento. “Sempre admirei a arte num contexto amplo, embora tenha me encontrado como artista quando tive oportunidade de estudar Artes Visuais, onde de fato compreendi que ser artista, é principalmente, compreender a si mesmo” contou.
Mari formou-se em Design Gráfico pelo SENAC-SP e depois em Artes Visuais pela Universidade Cruzeiro do Sul – UNICSUL. Neste período desenvolveu a própria linguagem artística urbana e trabalha com a arte desde 2015. Todos os seus esforços e ações estão direcionadas para a produção artística de forma ativista em questões sociais, com objetivo de conscientizar as pessoas que apreciam seu trabalho.
As questões sociais se tornou uma bandeira de luta para a artista, por isso criou a “persona” As Gordinhas, inspirada pelas próprias experiências de vida e das mulheres num contexto geral. A Gordinha trás uma reflexão sobre os padrões estéticos impostos pelo machismo e pela indústria da beleza, com isso, a personagem carrega toda uma simbologia de protesto contra uma cultura opressora e idealizadora. Fora contrapor a gordofobia, As Gordinhas carrega toda a delicadeza da alma feminina, contrapondo todas as imposições que as mulheres sofrem em questões corriqueiras, mas, tão poucas notadas. A nudez não tem conotação sexual em suas obras, pelo contrário, ela revela a liberdade do corpo da mulher contra a cultura do estupro.
Questionada sobre de onde vinha sua inspiração, Mari nos respondeu: “Poética? Bom, observando o meio social e a minha própria história de vida. Observo as mulheres no geral, esteticamente dizendo e socialmente. Normalmente escuto uma história e acabo tendo ideias em representar. Tecnicamente dizendo, estudo técnicas de desenhos, de pintura, observo trabalhos de artistas onde possa aprender algo novo, as ideias fluem de forma um pouco que naturalmente, vou vendo, sentindo, vivendo coisas e isso acaba me inspirando”.
Ela também admira artistas que pensem parecido e tragam em seus trabalhos poética, conceito, sentimento, sinceridade, novas ideias, reflexão e não apenas técnica. “A técnica sem conceito e propósito pra mim não tem sentido. Admiro artistas que conseguem ir além” disse ela.
E já que sua arte é feita para questionar, não há lugar melhor do que a rua para aproximar esse debate. Após o trabalho de conclusão de curso, com o tema ” O espaço da mulher na arte urbana”, Mari Oliveira conheceu pessoas e aprendeu sobre o movimento de arte de rua e isso lhe despertou para essa nova possibilidade. “O que me motivou a expor meu trabalho através do grafite, foi o meu desejo de que minha arte seja poética e reflexiva. E como a centralização de artes tradicionais e acadêmicas comumente são mais restritas as oportunidades e o acesso da população, nada melhor que usar o suporte da rua para expor minhas ideologias.”
No ano de 2018, Mari Oliveira foi selecionada para participar de um festival de arte feminina internacional no Peru, intitulado Nosotras Estamos en La Calle. O projeto de cunho feminista, reunia mulheres de vários países no intuito de aborda a unificação cultural de realidades de mulheres e suas poéticas artísticas.
Embora seu trabalho já tenha tido reconhecimento internacional, Mari nos contou que nem tudo é fácil. “A arte infelizmente ainda é elitizada, digamos que o mercado de artes seja a “ação” de produzir arte, porém, como o mercado é elitista, as informações e oportunidades ficam restritas . E isso dificulta os sonhos de pessoas que não são privilegiadas. E com isso viver do meu trabalho como artista, continua sendo difícil todos os dias. Ainda não sou renomada e nem sei se serei, porém costumo brincar que estou vivendo a fase de “Van Gogh” e quem sabe um dia, eu viva a fase de “Picasso” (risos) brincou.
Depois de tentar a vida toda se adaptar a um emprego formal, por não acreditar que era possível ser artista, ela precisou quebrar os próprios preconceitos para fazer o amava: criar.
“Crescemos acreditando que precisamos conseguir dinheiro, bens materiais, posição social e esquecemos de olhar pra dentro de nós e saber o que gostamos de verdade. Cresci escutando que artes não era profissão, que minha classe social não permitia realizar este sonho, e que arte era coisa de rico, mas, após anos tentando viver como esperavam de mim, chutei o pau da barraca e segui meu coração. Não é fácil, mas pela primeira vez na vida vejo algo meu dando certo. Agradeço ao universo por realizar o que minha alma anseia.”
A arte foi a ferramenta capaz de tirar Mari dada depressão e continua lhe dando forças para seguir, através das pessoas das novas culturas, desafios e aprendizados. “O “ser” artista é muito sensível e lidar com questões da realidade é um pouco complicado. Quando me reconheci e tive compreensão de minha identidade, se tornou mais fácil compreender as coisas. A arte me deu vida” disse.
Seu objetivo agora é levar além de reflexão sobre sua poética, ela deseja alcançar mudança real na mentalidade das pessoas a respeito das cobranças em relação ao corpo feminino.
Suas obras abusam das cores, da feminilidade e da beleza do corpo gordo feminino. De forma sutil e repleta de poesia ela vai gravando pelos muros de São Paulo um novo olhar sobre o belo. E deixando na mente das pessoas o poder que arte possui em romper preconceitos.
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Fonte : Mari Oliveira