Camilo Thomaz Benedito, conhecido como Sapiens, é nascido e criado no distrito da Brasilândia, na Zona Norte de São Paulo. Bairro considerado um dos locais de maior vulnerabilidade social da periferia deste centro urbano, referência na área de mobilização popular e “celeiro” de diversos artistas contemporâneos. Este contexto impactou indelevelmente a cosmologia do artista, que, formado em Ciências Sociais, desde 2004 faz do graffiti e da intervenção urbana formas de ação cidadã.
Abordando os conceitos crítica ao individualismo e valorização da diversidade cultural e da brasilidade, utiliza elementos geométricos que remetem às formas urbanas, à racionalização dos espaços e da vida e à contradição entre o olhar bidimensional e o todo circular e tridimensional, sempre explorando a ação de “estar na rua” como elemento atitudinal articulador de sua proposta de ação cidadã. As cores, vivas e contrastantes, são expressões da diversidade e das contradições inerentes à sociedade em que vivemos, das tensões entre o público e o privado, o indivíduo e o coletivo.
Mural por Sapiens e Joks em São Paulo/Brasil
PRIMEIROS PASSOS
Sapiens começou a pintar em 2002, numa época em que sentia que havia um marasmo político e social, não haviam grandes manifestações, nem muitos debates como vemos agora sobre política. Nisso, viu a possibilidade de ocupar os muros da cidade como uma forma de quebrar essa mesmice e se expressar, levar o questionamento às pessoas no seu cotidiano.
INSPIRAÇÃO
Sua inspiração vem de alguns peculiaridades referente a seu gosto por colecionar Histórias em quadrinhos, e pelas experiências que viveu. Participou do movimento punk, de pichações em forma de protesto. Essas referências estéticas e culturais o influenciaram. Quando conheceu o trabalho do Escher, voltado para a perspectiva e o relativismo, começou a desenvolver um trabalho geométrico. Assim, começou a criticar de forma mais plástica o conceito de individualismo na sociedade, em que todos convivem com os mesmos problemas, mas buscam soluções individuais. Hoje, além dessa questão do individualismo, seu trabalho reflete muito sobre a relação homem – natureza.
VIVER DA ARTE
“No início foi bem difícil. A gente levava enquadro da polícia toda semana, a grana era curta, o material já era muito caro, era tudo muito improvisado e no vandalismo. Ninguém sabia o que era aquilo ou porque eu fazia aquilo. Na família também, numa casa de trabalhadores aquilo era perda de tempo e de dinheiro, e ainda corria o risco de ser preso” contou.
CENÁRIO ATUAL
“Acompanho muitos artistas da minha geração, pessoas com as quais eu convivo na cena, admiro muito tanto na arte como enquanto pessoas. Vejo que aprendi e troco muito com muita gente, como o Ozi, Smoky, Shalak, meu parceiro Joks, e muitos outros, principalmente a galera da Brasilândia, que sempre fortaleceu no corre. Incluindo Os Gêmeos, que sempre surpreendem” falou.
OBJETIVOS, SONHOS E CONQUISTAS
A arte lhe proporcionou conhecer lugares, pessoas e fazer muitos amigos. Lhe ajudou a repensar questões sobre a vida e como pessoa e artista. Sobre seu lugar no mundo, qual a função da sua arte, como ela se comunica com as pessoas comuns no cotidiano. Seu maior sonho é pintar painéis maiores, laterais de prédios, e viajar pra pintar em países que ainda não conhece. Sapiens deseja sempre evoluir com sua arte, explorando novas formas, técnicas e ideias.
Hoje além de trabalhar com o grafite, Sapiens também é professor de Sociologia e Filosofia na rede pública estadual. Para ele isso indissociável. “Unir as abordagens e conceitos que trabalho em sala de aula à prática de questionar os modos pré-estabelecidos, de convivência e organização social, a hipocrisia, as desigualdades, a destruição do meio ambiente, a ideia de progresso e de uma formação tecnicista, que não deixa espaço para o que é humano, como a arte. Por isso gosto muito de pintar na minha quebrada e nas periferias, acho que é a valorização de um espaço e de pessoas que, pro sistema, não tem valor” disse.
Sapiens tem se consolidado como um dos mais expressivos e atuantes representantes da arte urbana paulistana. Teve e tem trabalhos em espaços, eventos e exposições tradicionais do graffiti.
DICA PARA QUEM ESTÁ COMEÇANDO
“Para as pessoas que estão lendo, digo que se estiver afim de fazer parte dessa cena, o mais importante é a atitude de estar na rua, de pintar para as pessoas, de ocupar o cinza. Tem que meter a cara. Desenvolver seu traço depende de foco e experimentação, de encontrar a galera do graffiti na rua e nos eventos e trocar ideia, aprender. É bom saber que não é glamouroso, exige muito suor, muito investimento físico e financeiro, mas se você curte mesmo, tem uma ideia pra passar, tem humildade no corre, sempre vai valer a pena”.
Mais informações sobre Sapiens :
Instagram : @sapiens_questione
Facebook : Sapiens
Flickr : Oco Sapiens
Veja outros Murais de Sapiens :
Murais de Sapiens e Joks
Mural por Mone / Sapiens / Smoky em Belo Horizonte / Brasil
Mural por Kevin Ledo / Sapiens / Smoky
[…] Thomaz Benedito, conhecido como “Sapiens“, é nascido e criado no distrito da Brasilândia, na Zona Norte de São Paulo sempre […]