Camilo Thomaz Benedito, conhecido como “Sapiens“, é nascido e criado no distrito da Brasilândia, na Zona Norte de São Paulo sempre abordando os conceitos crítica ao individualismo e valorização da diversidade cultural e da brasilidade em seus murais e Johnes ALves Leite, conhecido como “JOKS Johnes” também morador da Vila Brasilândia, aborda em suas letras e personagens com traços sempre com alguma ação ou expressão, buscando sempre retratar o Brasil. Juntos participaram do projeto MAR – Museu De Arte De Rua em Brasilândia, criando três novos painéis. Veja abaixo todo processo de criação e historia de cada painel.
Foto: Guilherme Fiorin – @guifiorin
O primeiro Painel fala sobre Ancestralidade e as dimensões do espiritual, representado na natureza pela sabedoria da coruja e a destreza da onça. O saber e o agir, para transformar a realidade. Kianumaka-Maná é a Deusa Onça. Ela é uma guerreira de espírito livre que carrega consigo a força das onças pintadas. Também abençoa as batalhas dos índios. O arquétipo desta deusa brasileira traz o poder e a força para enfrentar os medos.
Foto: Guilherme Fiorin – @guifiorin
Para o Xamanismo, a onça representa a medicina da proteção de espaço. É um animal que pode ao mesmo tempo nos assustar e evocar imenso respeito. É inteligente, ágil, esperta ajuda energeticamente os xamãs nas curas. A onça promove a interação entre a mente e a alma, funciona como mensageira. É também a medicina da coragem, da liberação de instintos, da sensualidade e do poder. Simboliza a conquista do espaço, a cautela, o saber agir, a habilidade e a agilidade. O Brasil é o resultado da mistura e o sincretismo é elemento central na diversidade e desenvolvimento do Futuro.
Foto: Guilherme Fiorin – @guifiorin
As simbologias atribuídas a Coruja variam bastante de cultura para cultura. Muitas delas associam essa ave ao simbolismo espiritual. Para os aborígenes australianos a coruja representa a alma das mulheres. Na Mitologia Grega, o símbolo de Atena (deusa da sabedoria e da justiça) era uma coruja. Isto porque ela possuía um mascote que, segundo a lenda, lhe revelava os segredos da noite mediante seu poder de clarividência, inspirados pela lua. Atena corresponde à deusa Romana Minerva (deusa das artes e da sabedoria), que também era representada por uma coruja. Devido à sua capacidade de ver à noite, a coruja foi invocada pelos gregos e pelos nativos americanos como um oráculo do conhecimento oculto com poder de clarividência.
Foto: Guilherme Fiorin – @guifiorin
Em outras palavras, quando os homens dormem, as corujas desvendam mistérios, pois “enxergam o todo”. Além disso, na mitologia Grega, a coruja representa a figura de Ascáfalo (quando é metamorfoseado), filho de Aqueronte e da Ninfa Orfne e Guarda de Plutão, o Deus dos Mortos. Importante ressaltar que do grego, o termo “coruja” (Gláuks) significa “brilhante, cintilante”, enquanto no latim (Noctua) representa a “Ave da noite”. As aves carregam a liberdade e a leveza.
Fotos: Guilherme Fiorin – @guifiorin
Portal formigueiro: Este segundo painel trás elementos marcantes da identidade visual de Sapiens e do Joks. As cores, vivas e contrastantes, são expressões da diversidade e das contradições inerentes à sociedade em que vivemos; as formigas, animal essencialmente coletivo, expressa as tensões entre o público e o privado, o indivíduo e o coletivo, movimento e estagnação.
Foto: Guilherme Fiorin – @guifiorin
A obra propõe uma crítica ao individualismo e à cultura de massa, utilizando elementos geométricos que remetem às formas urbanas, à racionalização dos espaços e da vida e à contradição entre o olhar bidimensional e o todo circular e tridimensional.
Fotos: Guilherme Fiorin – @guifiorin
Coração Guarani: Neste terceiro painel, os artistas Joks e Sapiens buscaram representar um resgate de memória e ancestralidade do bairro Jd. Guarani, onde se localiza a obra. A presença da língua guarani é marcante no território, como se constata pelos nomes dos bairros do entorno, como Jd. Carumbé, bem como de vias importantes como a Rua Parapuã ou a Avenida Itaberaba. A eminência da aprovação do PL 490, com o que tem sido chamado de “marco temporal”, é mais um ataque aos povos indígenas que resistem no território brasileiro.
Foto: Guilherme Fiorin – @guifiorin
Diante da ameaça do aquecimento global, a metamorfose representada pela borboleta e a mulher indígena carregando o coração da natureza nas costas e o bebê no colo indicam que não há futuro possível para a humanidade sem o resgate dos saberes ancestrais. A coroa de arame farpado sobre o coração vegetal representa o calvário imposto ao planeta e às inúmeras populações tradicionais pela razão instrumental capitalista.
Fotos: Guilherme Fiorin – @guifiorin
Fonte: Sapiens/Joks