O artista Dinho Bento nasceu na cidade histórica de Mariana, em Minas Gerais/Brasil. Fez a sua primeira pintura outdoor em 2002, com mais dois amigos na pista de skate que havia na cidade, mas considera que começou a atuar mesmo na rua a partir de 2005, com uma série de stickers que ele produzia em casa e colava nas ruas. Já deixou seus trabalhos em diversas cidades do Brasil e outros países incluindo França, Portugal, Alemanha, Espanha, Hungria e Eslovênia.
Graduado em Artes Plásticas pela Escola Guignard – UEMG, Dinho Bento acaba de se mudar para a Hungria, onde vive com a sua esposa e se dedica aos trabalhos indoor.
Inspirado principalmente pela fauna, flora e cultura de diferentes povos, ele procura levar suas influências e estudos aos trabalhos que desenvolve em atelier, nos espaços urbanos e lugares abandonados. O artista gosta de discutir temas que navegam desde contemporâneos, históricos, políticos, sociais e naturalistas.
Veja nossa entrevista com Dinho Bento :
1 – Todo mundo que acompanha seu trabalho deve ter a curiosidade de como surgiu seu interesse pela arte, você pode contar pra gente ?
Assim como muitos artistas, comecei a desenhar desde criança, mas passei a me dedicar mais a partir dos 16 anos, quando fui estudar na FAOP (Fundação de Arte de Ouro Preto), e assim decidi que queria ser artista e não havia possibilidade de ser outra coisa na vida, por mais que eu já tivesse noção das grandes dificuldades que eu teria pelo caminho. Mariana e Ouro Preto é berço de grandes artistas e sempre me senti inspirado pela atmosfera daquela região onde eu cresci.
Devido às políticas de proteção ao patrimônio histórico nessas cidades, eu atuava mais em locais abandonados e nas zonas rurais, pintando em diversos locais que faziam parte das trilhas de bike que eu fazia com os amigos, onde qualquer suporte que eu encontrava pelo caminho servia como base para uma pintura.
2 – Quais foram os maiores desafios e dificuldades como artista ?
Em cada fase os desafios mudam. No começo era difícil até mesmo adquirir bons materiais, então a gente tinha que se virar com o que era mais acessível. Raramente aparecia um projeto que pagasse um valor justo, ainda mais vivendo no interior, onde o investimento nesse segmento é mais precário. Nessa época eu me sustentava mais com os trabalhos de ilustração e design. A arte de rua era algo que eu fazia por diversão e sempre queria fazer mais e mais.Hoje eu tenho o desafio de morar em outro país e conviver com uma cultura bem diferente da minha. Enfim, eu prefiro encarar qualquer desafio ou dificuldade como aprendizado, pois acaba que esses obstáculos vêm para somar em diversos sentidos.
3 – Como foi a definição do estilo que você gostaria de trabalhar ?
Sempre gostei de experimentar diversas técnicas e procurei me aprofundar um pouco em cada uma que me cativava, para saber o que me deixa mais à vontade e expressa visualmente o que eu realmente quero passar. Por mais que seja diferentes expressões, eu sempre acabo carregando um pouco de cada fase para o que faço na atualidade. Teve uma fase que trabalhei mais stickers, outra que eu mesclava o sticker com uma pintura no local onde colava, houve uma época que resolvi sair da cidade e passei a pintar em troncos queimados, carvoarias e outros lugares nada convencionais que eu encontrava e também não deixava menção a autoria nesses trabalhos. E tem coisas eu faço hoje e encontro vestígios de traços e elementos que eu fazia há anos atrás. É como estar em uma caminhada que eu vou recolhendo coisas pelo caminho e tenho que deixar outras para trás, mas algumas delas eu não abro mão de estar sempre carregando.
4 – De onde vem sua inspiração ?
Acredito que vem de tudo que está ao meu redor, da minha história, da história do meu povo, do meu país, das coisas que eu leio, que ouço e que me faz sentir bem quando eu vejo. Também gosto muito de estudos relacionados a elementos da natureza, como ilustração científica e naturalista.
Às vezes quando surge um novo projeto, gosto de sair para pensar e relaxar, geralmente vou para um lugar e passo a observar cada planta, a sua textura e seus detalhes, faço algumas fotos e sempre dá certo, volto pra casa com diversas ideias pulsando na cabeça. Comigo a inspiração jamais vem de forma forçada e ela se fortalece com a prática.
Creio que os momentos mais fecundos vêm quando a cabeça está relaxada e os sentidos estimulados, então mesmo quando a minha cabeça está tomada de problemas e decisões, procuro juntar tudo e armazenar em alguma parte do cérebro de modo que não interfira no meu processo criação.
5 – Quais artistas do cenário atual você admira ?
São tantos artistas que admiro nesse atual cenário que fica difícil citar alguns e deixar outros para trás. Bom, vou falar do primeiro nome que me veio à mente, o Liqen. Acho incrível o desenho dele e a forma como ele cria diversas espécies. É preciso muito estudo e percepção para chegar em resultados do tipo.
6 – O que você ainda sonha em realizar com a sua arte ?
Sonho em estar sempre aprendendo e produzindo até quando eu puder nessa vida. Quero conhecer ao máximo esse planeta que habito e ser um filtro entre as coisas que me influenciam e o que devolvo para o mundo em forma de arte.
7 – Quais foram as coisas boas, que a sua arte te trouxe ?
Desde que escolhi esse caminho, a arte sempre me presenteou com grandes amizades e oportunidades de conhecer lugares que eu não imaginava conhecer. Encontrei muitas pessoas maravilhosas pelo caminho e essa rede só vem crescendo.
Em muitos lugares que já pintei, diversas pessoas se aproximaram de mim para falar sobre o que sentiam ao ver o meu trabalho. Uma vez quando eu estava fazendo uma pintura em Toulouse, um moço senegalês se aproximou e me presenteou com uma cerveja, disse que era um agradecimento por eu deixar o caminho dele mais agradável. É incrível essa comunicação que a arte é capaz de nos proporcionar. A arte está sempre me ensinando a lidar com o mundo de forma cada vez mais leve, sincera e humana.
8 – Se você não fosse artista, qual séria o plano b ?
Não tenho ideia…talvez algo relacionado ao artesanato.
9 – Alguns artistas curtem ouvir músicas durante o processo criativo, com você funciona da mesma forma ? E na sua playlist o que não pode faltar ?
Sim, a música me estimula muito. São diversas as vertentes que escuto e isso varia com o momento e a etapa do processo, por exemplo, quando estou começando a pintura, eu escuto um som mais instrumental do tipo Tortoise, Uakti, ou um Dub…na fase do preenchimento eu já coloco um metal, rock e derivados para dar um gás na produção e por aí vai. Mas muitas vezes eu prefiro desligar o fone e ficar com a sonoridade do local, principalmente quando o lugar é deserto e oferece sons vindos direto da natureza.
10 – Deixe uma mensagem para os nossos leitores.
Se você é artista, não faça o seu trabalho pensando em vender e sim porque você ama fazê-lo e acredita muito no poder que a expressão do seu trabalho pode causar. Vender a sua arte é apenas a consequência do agrado alheio, e isso também não quer dizer se a sua arte é boa ou ruim.
Se você pensa em ser artista, seja sincero e queira muito a ponto de ter certeza disso. Depois estude e pratique de forma exaustiva, e quando não aguentar mais, faça mais um pouco. Teste seus limites, como o senhor Miyagi fez com Daniel San em Karatê Kid (risos).
Se você é apreciador, não coloque o valor que você quer pagar no trabalho de um artista, só ele sabe medir todo o esforço que foi necessário para chegar ao nível do trabalho que oferece.
E para geral, consuma arte, frequente museus, galerias, feiras, leia bons livros e artigos, veja bons filmes e escute boas músicas.
Se liberte que qualquer preconceito ou intolerância, isso é fundamental !
Mais informações sobre Dinho Bento :
Facebook : dinho bento
Instagram : dinho_bento
Site : www.dinhobento.com.br
Fonte : Dinho Bento
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